INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 21 de Agosto de 2022 – Em entrevista concedida à “Integrity”, Domingos da Cruz, académico e escritor angolano, defendeu que o processo eleitoral ora em curso, em Angola, é um “simulacro eleitoral”, porque o regime actual é “autoritário por natureza”.
Conforme o entrevistado, o regime angolano só organiza o escrutínio para “mascarar-se” perante parceiros internacionais, como mero pretexto de lhes fazer entender que em Angola se vive num ambiente democrático.
Para o académico, um dos grandes problemas que o processo eleitoral angolano carrega é o facto de a “Lei eleitoral não permitir que haja uma contagem e divulgação de resultados no local da votação”, ou seja, o apuramento dos resultados, em Luanda, demonstra falta de transparência, uma vez que o correcto seria que os resultados fossem divulgados nas 18 províncias do país.
Sobre a possibilidade de uma mudança governativa, da Cruz entende que não haverá mudança alguma, uma vez que o MPLA controla tudo e todos que estão em frente do processo, de maneira que, até, conseguiu colocar alguém da sua confiança – acusado de não ter ganho o concurso público – à função de Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Ainda assim, conforme referiu, o regime actual continuará no poder, uma vez que existe uma “psicologia do povo angolano”, que é de um “povo burro”.
Ainda, deixou claro que “nenhum académico sério pode falar em alternância governativa”, num contexto em que os Serviços de Informação do Estado, os Jornais, as Televisões, dia e noite, passam apenas informações do regime actual, manipulando mentes. O académico entende que 80% das pessoas não confiam nas instituições angolanas, daí que prevê o seguinte: caso o regime vença, haverá tumultos em Angola.
Segundo Domingos da Cruz, “acreditar que haverá mudança é uma questão de fé e não de ciência”. De referir que Angola vai às urnas a 24 de Agosto. O principal candidato, nomeadamente João Lourenço, actual Presidente da República, concorre à sua reeleição pelo MPLA. Já, pela UNITA, concorre Adalberto da Costa Júnior, num processo se prevê bastante renhido conforme se foi demonstrando durante a campanha eleitoral; mas os receios de uma fraude eleitoral e denúncias de existirem “eleitores fantasmas” aumentam a cada dia. (Omardine Omar)