Escrito por: Onélio Luís /Jornalista e Youtuber
INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 20 de Agosto de 2022 – Quem disse que “a união faz a força” não mentiu. A união já é um bom começo para se alcançar sucesso em todos ramos de actividade. Infelizmente, a falta deste elemento no seio dos artistas moçambicanos, sobretudo os do ramo musical, é evidente até para quem não é da Pérola do Índico, um dos factores que muitas vezes “mata”, antes de nascer a carreira de muitos cantores talentosos.
Perdi o número de vezes que escrevi este texto e apaguei, não por falta de argumentos para sustentar a minha opinião, pois achava que iria ferir sensibilidades já que estamos numa época em que valorizam-se mais os elogios e, quem crítica ou tem uma opinião adversa é tido como um infeliz ou invejoso e tratado como um leproso, não só nas artes como também na política, economia, ciência e mais.
Alguns artistas que estiverem a ler este texto podem ficar escandalizados e até irritados com o autor (estou ciente que insultos vou amealhar), mas isso não deixa de ser verdade nua e crua, na minha opinião e se calhar na dos demais, que por várias razões não podem expô-la.
Nas próximas linhas responsabilizar-me-ei, na exposição das razões que me levam a escrever o presente artigo de opinião, que não generaliza a questão em alusão, mas mostra que grosso número de artistas moçambicanos não se apoia. Repito. Não se apoia.
No ano passado escrevi um artigo quase idêntico, que foi publicado numa plataforma de promoção de entretenimento e ouvi algumas reacções de certos artistas da nova e velha guarda e também reacções dos amantes da música nacional, algumas ao meu favor outras contra, claro que isto era previsível.
A indústria musical moçambicana é rica em talentos invejáveis ao nível de países africanos de expressão na língua portuguesa. Refiro-me a nível de compositores, produtores, beatmakers, intérpretes, instrumentistas e outros. Somos bons em diversas áreas da música que até outros sentem “inveja” da nossa riqueza de talentos, mas devido a nossa desunião ninguém avança.
Entre os factores que revelam esta desunião entre os artistas da minha pátria amada se destacam: o tribalismo, a dita antiguidade, falta de humildade, orgulho, excesso de estrelismo e mais. Na minha opinião, estes factores não deviam existir para uma classe que pretende destacar-se não só ao nível nacional como fora de portas.
Falando em tribalismo por exemplo é raro ver um artista residente ou natural da capital, fazer um álbum e convidar ou pedir a participação de alguns nomes fora da metrópole, os únicos que fizeram foram o rapper Dygo Boy e o cantor Mr Bow nos seus últimos trabalhos discográficos. O mesmo acontece com espectáculos. Os promotores da capital por vezes organizam um espectáculo só com cantores residentes em Maputo e angolanos, excluindo os de outras cidades ou províncias, mas os artistas da metrópole disso nunca reclamam, aliás a reclamação é quando o cachê do internacional e a logística supera dez ou mais vezes o que serão pagos, aí sim querem falar da desvalorização dos artistas nacionais.
Sobre a Antiguidade, a famosa velha guarda, que nada guarda se não frustração por ter sido usada em diversas campanhas eleitorais por políticos a troco de promessas nunca cumpridas, mesmo assim não aprende… Este grupo de artistas é daqueles que olha para nova geração de cantores com um certo desprezo. Para eles a música deveria continuar estática, naquele ritmo deles de 1970. Na sua opinião, esta juventude veio “estragar” o real sentido da música. Por isso que são raras se não inexistentes as vezes que este grupo aceita um featuring com a “Nova Guarda” (já que existe a velha), ou convida os mesmos para participar de seus álbuns porque está parado no tempo. Não seguiu as tendências musicais (não precisa ser expert para perceber isto).
Não que os angolanos sejam os mais assertivos em matérias musicais, mas é lindo ver por exemplo um featuring entre Prodígio e Paulo Flores, C4 Pedro e Calabeto, Bonga feat Anselmo Ralph, Lil Saint ft Yola Semedo, Puto Português feat Paulo Flores (os exemplos são infinitos). Lembre que estas colaborações são feitas por artistas que fazem ritmos bem diferentes, mas o produto final muitas vezes orgulha o país deles. No meu país os cantores ou músicos da velha guarda que aceitam este “desafio” contam-se e, arrisco-me a afirmar que não chegam uma mão inteira.
Outro factor é o excesso de estrelismo dos nossos artistas. Por vezes é benéfico, na medida em que aumenta a valorização do próprio em algumas situações como comerciais. Mas não deixa de ser ridículo ouvir um artista dizer que cobra uma ou mais centenas de milhares de meticais para participar de algum trabalho do seu colega, que muitas vezes está no início da carreira. Olhando para a nossa realidade onde acha que outro irá trazer este investimento todo? Eu quero acreditar que talvez a afirmação seja no âmbito do showbiz.
No texto que escrevi no ano passado abordava sobre a ausência da velha guarda, nos lançamentos dos álbuns da nova geração. Sobre este “fenómeno” há um artista da velha guarda, que prefiro não citar o nome afirmou que não iria a um evento desta natureza, sem que lhe fosse formulado um convite. Perguntei se para apoiar alguém era necessário que o beneficiário convidasse. Por outro lado, lançamentos de álbuns são eventos públicos sem restrições porque uns precisam de convites? Não estaríamos naquela situação de excesso de estrelismo?
Quem já viu um artista partilhar música do outro, que não seja das suas confianças por ter gostado do trabalho do colega e/ou também com o propósito de apoiar na divulgação?
Sobre o fraco avanço da música nacional é um tema que já levantou vários debates, radiofónicos, televisivos até em auditórios com as autoridades, mas os resultados ainda continuam a quem o desejar.
O presente artigo não é um segredo de ouro para o sucesso da música nacional, mas se tiver lido sem um pingo de ódio do autor ou sem uma ideia preconcebida, o mesmo convida-lhe a fazer uma reflexão profunda sobre o assunto epigrafado.
Até a próxima.