ANÁLISE: “Os possíveis cenários” durante o Congresso da RENAMO*

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 14 de maio de 2024-Arranca no dia 15 de maio de 2024, no distrito municipal de Alto-Molócuè, na província da Zambézia, o tão esperado e mediatizado congresso da RENAMO que em primeira linha terá 10 candidatos para a presidência do Partido. Um sinal positivo para os ditames democráticos, mas também de fragilidade para quem for a vencer, uma vez que terá que procurar acomodar ou excluir os seus adversários durante o escrutínio.

A RENAMO tem a grande oportunidade de sair enorme deste congresso, como também tem o grande desafio de sair mais dividido do que já está. Para tal, precisa procurar uma forma de comprovar para os moçambicanos sedentos de uma nova roupagem política sobre os reais objectivos da RENAMO. Se pretende ser um simples partido eternamente na oposição e com todas as coisas que advêm disso, ou quer chegar ao poder e fazer história na democracia moderna.

A RENAMO pode ter montado a actual crise com o intuito de puxar para si toda atenção da Mídia, como forma de esquivar-se das promessas pós-eleitorais de lutar até ao fim para a reposição da verdade eleitoral, inclusive internacionalmente, o que não aconteceu. Portanto, era de vital importância que a RENAMO mantivesse os nomes simpatizantes e credores do partido, para tal, a estratégia passaria pela a criação de uma aparente discórdia interna que se arrastaria até ao Congresso, onde todos os envolvidos na trama sairiam acomodados e com sinais de amnésia de tudo que aconteceu nos últimos tempos no partido.

Por outra, candidatos como Venâncio Mondlane e Elias Dhlakama, figuras que mais afrontaram a liderança nos últimos meses podem ser isoladas do processo de escolha e serem excluídos do espaço político do partido RENAMO durante os próximos cinco anos ou mais, conforme aconteceu com o falecido Daviz Simango que viria a concorrer como independente e posteriormente acabou fundando o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) continuou fazendo a sua história política até o fatídico dia 22 de fevereiro de 2021.

Um outro cenário previsto é que Ossufo Momade concorra à presidência do partido, vença, uma vez que o maior número de delegados presentes no congresso serão provenientes da província de Nampula, sua terra natal e o primeiro local que Ossufo Momade deslocou-se no meio de toda está tempestade política que se instalou no partido, onde pela manhã ocupava-se com as famílias que perderam seus parentes no naufrágio e ao longo do dia ficava a montar a sua estratégia de reeleição, onde para calar os críticos irá indicar Ivone Soares como Secretária-Geral e deixar-lhe concorrer a presidência da República, em resposta ao factor idade e género, e Alfredo Magumisse ascende a posição de porta-voz do Partido ou assessor particular do Gabinete do presidente.

Derrubar Ossufo Momade em Alto-Molócuè, não será fácil, uma vez que vários membros da etnia do actual líder da RENAMO estarão no Congresso. Lembrando que Nampula para Alto-Molócuè a distância é de 208,5km, ou seja, é uma viagem de 2h48 minutos através da Estrada Nacional (EN1), contrariamente ao percurso Nampula para Quelimane, onde o percurso é de 545,4 km e 7h4 minutos de viagem, onde alguns seguidores de Venâncio Mondlane invadiram a sala e criaram “um autêntico caos no local da realização do problemático conclave da Perdiz”. Um aspecto antecipadamente estudado e coordenado, tomando em conta que caso Ossufo Momade e o Conselho Nacional (CN) da RENAMO escolham-se a cidade dos Bons Sinais, o caos estaria instalado.

De salientar que uma das bases mais temíveis da RENAMO esteve instalada nas matas de Nampula, onde Ossufo Momade goza de toda a protecção e lealdade, razão pela qual, este Congresso pode ser um jeito simplesmente de legitimação das pretensões de Ossufo Momade e seus reais apoiantes. Entretanto, caso a RENAMO venha permitir a candidatura de Venâncio Mondlane e Elias Dhlakama, antevê-se que surja uma união, onde Elias Dhlakama passará a posição de Presidente do Partido e Venâncio Mondlane será o candidato e consequentemente o SG da Perdiz com todos os poderes de circulação e organização para as eleições de 09 de outubro próximo.

Os dados estão na mesa. Independentemente do ruído que se fizer sentir, um destes cenários acima descritos podem ser validados ou chumbados, mas uma das grandes possibilidades é que no meio da tempestade, surja um “anjo” que durante este período não marcou qualquer posição e muito menos atacou nenhum dos lados. No meio da tempestade e tensão, a RENAMO poderá dar uma volta de 360° e afastar todos os que disputam actualmente o poder e colocar Manuel de Araújo como o seu candidato à presidência da República, o indicando como Secretário-geral e mantendo Ossufo Momade como Presidente do Partido.

O primeiro grande passo De Araújo, caso este cenário se materialize será de unir todas as partes e colocar Venâncio Mondlane como seu Director de campanha, com a possibilidade de vir a ser o próximo “primeiro-ministro” caso ganhe ou chefe da bancada se assim não alcançarem o poder. A estrutura do partido poderá ser outra com a criação de uma função, denominada vice-presidente do partido, onde a figura escolhida será Ivone Soares ou Elias Dhlakama, e assim calam-se os críticos e a tempestade termina.

Os ideólogos da RENAMO souberam usar toda esta tempestade para colocar o partido no centro do debate nacional. Todos os órgãos de comunicação social estiveram dedicados em reportar tudo que acontecia ou acontece à volta da RENAMO, razão pela qual, não foi por acaso que figuras leais ao actual dirigente do partido surgiram na última hora apresentando candidaturas. Também como, não é mera coincidência que parentes de Elias Dhlakama apareçam a apoiar a candidatura de Venâncio Mondlane. Assim como, para quem acompanha a caminhada política de Manuel De Araújo percebe que ele tem segurança que poderá ser o “futuro da RENAMO”, ou seja, quando todos os “grandes gladiadores actuais” se cansarem, os olhos de todos estarão virados para ele – Manuel De Araújo – o candidato presidencial de 2024 ou 2029!

Até breve!

*Omardine Omar – Jornalista investigativo, Director da Integrity e MRCM, Escritor, consultor independente, licenciado em filosofia/história (UP), mestrando em ciências políticas (UEM) e estudante de Direito.

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