Durante dias, os hospitais receberam vários doentes que ficavam enfileirados escorrendo lágrimas pelos olhos e pingando ranho pelas fossas nasais.
O pessoal funcionário dos hospitais, ficou sobrecarregado pelos serviços e os diagnósticos não tardaram em dar suas caras. A verdade era dita de boca em boca e até aos órgãos de comunicação social.
As notícias sempre diziam:
– A epidemia da Conjuntivite está a assolar as nossas terras. É preciso ter cuidados pois a doença é altamente contagiosa.
Enquanto as rádios, jornais e estacões televisivas falavam todos os dias da enfermidade, os comentários e opiniões eram partilhados por tudo o que é cidadão em todos os pontos das maiores cidades do país.
Os medicamentos recomendados pelos hospitais tiveram compras inimagináveis e daí nasceu a maior procura de todos os tempos, forçando os técnicos a usarem curativos alternativos e parindo-se o espaço de aproveitamento de má fé pelos farmacêuticos nas grandes farmácias, vendendo qualquer coisa que encontrassem por aí.
Surgiram os especuladores de preço que conseguissem à sua maneira certos fármacos e abriram-se brechas para viagens rumo as zonas recônditas de cada província para aquisição dos medicamentos, graças ao esgotamento nas cidades. E a medicina tradicional e empírica, entraram para passearem a sua classe, sendo administradas gotas de seiva de plantas directamente para os olhos e o molho da fervura das mesmas. Dentre elas, a folha da melância, caiu em muitos olhos cuja irritação doeu para valer. O sabão maiato, foi chamado a intervir, para aliviar a dor dos seres humanos. E um dos produtos mais usados, foi a urina do próprio doente, onde instruções, davam conta que o ser humano devia urinar em sua mão ou num recipiente, par depois administrar o líquido lavando a cara e deixando parte entrar nos olhos doentes.
Há quem teve o azar de ser administrado cola de contacto, vulgo “alardite” directamente nos olhos, que não vale a pena trazer a imaginação os resultados desta asneira.
Durante os dias que a conjuntivite assolou a sociedade, os seres humanos experimentaram olhos avermelhados com dores como se tivessem areia, lágrimas caindo, como se de um falecimento se tratasse, ramelas a colarem os olhos e muto trabalho para amolece-las logo ao acordar. Nos postos de trabalho e igrejas, já não se distinguiam os bêbados, fumadores da canábis, verdadeiros doentes, e os apaixonados pela moda, pois todos andavam disfarçados por trás dos óculos.
Faz-me lembrar nos anos em que as máscaras taparam bocas e narizes escondendo as bocas pintadas de batom em nome de uma pandemia, nos anos considerados de alfaiates. Mas como diz um cidadão de renome na pátria amada que é “vez vez”, parece que desta vez, estamos no ano do oculista.
Francisco Rage
01.04.2024