Escrito por: Pereira da Fonseca Martins Napuanha
INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 18 de Agosto de 2022 –À semelhança de vários países, Moçambique tem vindo a verificar uma subida generalizada de preços a que a classe económica chama inflação e a classe maioritária, custo de vida elevado.
Dada à relevância do tema (Inflação), propusemo-nos a fazer uma mera abordagem de esclarecimento sobre a definição simples da inflação, sua origem, impactos directos e sugestões de mitigação.
Tem-se verificada a subida de preços de combustível ao nível mundial, sem exclusão de Moçambique, uma vez que a economia, no geral, tende a globalizar-se. A pouco mais de um ano que o nível de inflação em Moçambique situava-se a menos de dois dígitos. Até, devido a vários factores económicos e conjunturais, se evidenciou o que já era de se esperar: a subida da taxa de inflação para dois dígitos, situando-se nos 11,77%, em Julho último (conforme o anuncio do Banco de Moçambique).
A tabela abaixo demonstra a tendência da taxa de inflação, nos últimos 3 (três) meses de 2022, em Moçambique:
Mês | Taxa de Inflação |
Maio – 2022 | 9,31% |
Junho – 2022 | 10,81% |
Julho – 2022 | 11,77% |
Mapa Comparativo de Inflação – 2022
2022 | Moçambique | África de Sul | Angola | Zimbábue |
Julho | 11,77% | 7,40% | 21,40% | 256,90% |
Junho | 10,81% | 7,42% | 22,96% | 191,60% |
Maio | 9,31% | 6,61% | 24,42% | 131,70% |
Abril | 7,90% | 5,99% | 25,79% | 96,40% |
Março | 6,67% | 6,15% | 27,00% | 72,70% |
Fevereiro | 6,84% | 5,66% | 27,28% | 66,10% |
Janeiro | 7,80% | 5,70% | 27,66% | 60,60% |
Destaques do mapa seguem para dois países:
- Angola: taxa de inflação em declínio pelo nível de venda de barris de petróleo registados, trazendo, efectivamente, a política cambial a um nível mais favorável para o país, dadas as restrições económicas na Rússia, por conta da guerra militar entre Rússia e Ucrânia.
- Zimbabwe: taxa de inflação em crescimento galopante desde Janeiro último, pela desvalorização da moeda nacional, desde as sanções internacionais impostas, no âmbito da reforma económica, implementada pelo já falecido Ex-Presidente Robert Mugabe.
- Definição simples da inflação
A Inflação pode ser definida como subida generalizada de preços de bens e/ou serviços de consumo, devendo-se reter o facto de serem vários bens e/ou serviços, e não somente a subida de um produto/serviço.
A subida de bens de consumo, como, por exemplo, tomate, cebola, alho, óleo, açúcar, pão, arroz, farinha de milho/ trigo, entre outros bens que afectam directamente a maioria da população de classe média e baixa, tem como resultado a inflação. O contrário (descida generalizada de preços de bens e/ou serviços) é economicamente denominado por deflação.
A referida subida de preços de bens/serviços encarece, indubitavelmente, o custo de vida dos consumidores, retraindo a economia de qualquer país, facto que torna este fenómeno crucial para o conhecimento comum.
Este fenómeno torna-se de extrema importância pelo facto do mesmo reduzir o poder de compra da moeda, forçar a contração da economia, motivar a desordem social para muitas famílias, desestabilizar o valor da moeda, reduz a demanda de bens/ serviços, e entre outros aspectos.
- Origem da Inflação
A inflação traz abordagens motivadas por várias razões económicas, dentre as quais se refira a subida do combustível, que garante a produção de bens e sua posterior distribuição por vários pontos (desde a origem de produção ao destino de consumo), aumento significativo de moeda em circulação, redução do nível de produção de bens e/ou serviços.
- Impactos Directos e/ ou Indirectos da Inflação
Economicamente, a inflação carrega consigo efeitos desabonatórios para qualquer país, uma vez que encarece o custo de vida dos consumidores, sem exclusão da redução do poder de compra da moeda.
O poder de compra da moeda perde o seu valor: “Se uma moeda de 10,00MTn podia comprar 2 rebuçados, dada a subida geral de preços, a mesma moeda passa a comprar somente 1 rebuçado” Infelizmente, a subida generalizada de preços não é acompanhada da subida salarial dos funcionários públicos ou massa assalariada do sector privado.
- Sugestões de Mitigação da Inflação
- Introdução de políticas económicas;
- Equilíbrio do nível de produção industrial;
- Equilíbrio da quantidade de moeda em circulação.
Opinião Própria
Há, sem margem de dúvidas, a necessidade de termos um Governo mais centrado no bem-estar social, cujos assessores consigam fazer uma leitura real da ocorrência e vivência do nosso povo, que, muitas vezes, clama por uma assistência, que lhes é negada.
No corrente mês, assistimos o nosso Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, a anunciar um pacote de medidas de aceleração económica, sobre os quais havia muita expectativa; mas, quando existem desespero e expectativas de crescimento económico num pais onde poucos são da classe social alta, há que entender que as políticas económicas são transformadas em políticas de popularidade e/ou partidárias, para a referida classe económica.
Não vejo a afectação real das medidas tidas como pontos de partida para a chamada aceleração económica; pois, preocupa-me bastante entender a sofisticação categórica com que foi propalada a informação. Em reflexão cautelosa sobre o pacote como um todo, percebo que não passam de falácias contra as quais a população poderá retaliar-se pelas falsas expectativas previamente criadas pelos nossos dirigentes.
Se não, vejamos a título de reflexo das medidas de aceleração económica em Moçambique:
- Em que medida a redução do IVA irá ajudar os consumidores finais?
- Quem serão os consumidores?
- A contínua redução de demanda de bens e serviços, por conta da perda de valor da moeda, irá garantir a dita aceleração económica?
- Quem realmente faz ou garante a estabilidade de preços no mercado, tornando a economia do país mais assertiva?
São todos convidados a rever todas as medidas tidas no referido pacote de aceleração económica, pelo nosso Governo, e em função da mesma tirar notas conclusivas pessoais.
Lamentavelmente, os assessores deviam ser revistos com urgência, porque não estão a trazer políticas económicas que, na realidade, conduzem o país positivamente.
Moçambique precisa de políticos com políticas económicas arrojadas para que os pouco mais de 33 (trinta e três) milhões de pessoas possam desfrutar das potencialidades existentes, trazidas à tona pela natureza criada, e em pé de igualdade para todos.