INTEGRITY- MOÇAMBIQUE, 17 de Agosto de 2022 – A União Europeia está planejando um aumento de cinco vezes no apoio financeiro a uma missão militar africana em Moçambique, mostra um documento interno da UE, já que ataques islâmicos ameaçam projectos de gás destinados a reduzir a dependência da UE da energia russa.
O aperto de energia devido à guerra na Ucrânia deu um impulso à corrida da Europa por gás na costa norte de Moçambique, onde as empresas petrolíferas ocidentais planejam construir um enorme terminal de gás natural liquefeito (GNL).
A medida também ocorre quando o Ocidente procura combater a influência russa e chinesa no país do sul da África, três anos depois que a empresa militar privada russa Wagner retirou a maioria de suas forças após uma série de derrotas por militantes islâmicos.
Moçambique tem lutado com militantes ligados ao Estado Islâmico em Cabo Delgado, província rica em gás, mais ao norte, desde 2017, perto de projectos de GNL no valor de biliões de dólares.
Uma missão militar da África Austral e uma intervenção separada por tropas de Ruanda conseguiram conter a propagação dos militantes desde que foram mobilizados no ano passado.
Mas “a situação continua muito volátil e ataques violentos de menor escala continuaram em vários distritos”, disse o documento da UE datado de 10 de Agosto.
O documento preparado pelo Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE), o Ministério das Relações Exteriores da UE, recomenda 15 milhões de euros (15,3 milhões de dólares) de financiamento da UE até 2024 para a missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), um bloco de 16 Nações africanas das quais meias dúzias enviaram tropas para Moçambique.
A missão deverá ser prolongada por seis ou doze meses numa cimeira da SADC em Kinshasa a partir de quarta-feira, de acordo com o documento, que acrescenta que o apoio da UE à missão ruandesa também será proposto nos próximos meses.
Um porta-voz da UE confirmou que foi proposto apoio financeiro adicional à missão da SADC, mas recusou-se a comentar mais porque o assunto ainda está a ser discutido pelos governos da UE.
A proposta precisa do apoio dos 27 governos da UE, cujos especialistas militares devem realizar uma reunião regular em 25 de Agosto.
Um funcionário da SADC também confirmou um pedido de apoio da UE, mas acrescentou que os países da SADC continuarão a fornecer apoio financeiro fundamental à missão.
A gigante petrolífera francesa Total está liderando um consórcio internacional para extrair gás da costa norte de Moçambique e liquefazê-lo em uma usina de GNL em construção, de onde seria exportado para a Europa e Ásia.
PROJECTOS DE GÁS AMEAÇADOS
Moçambique tem a terceira maior reserva comprovada de gás em África, depois da Nigéria e da Argélia. A UE teme que, sem apoio às intervenções militares, Moçambique possa voltar a perder o controlo do seu inquieto norte.
Os terroristas islâmicos recentemente intensificaram os ataques.
A UE já se comprometeu a fornecer ao exército do país 45 milhões de euros adicionais (45 milhões de dólares) de apoio financeiro, e até agora disponibilizou à missão da SADC 2,9 milhões de euros de financiamento.
O novo apoio da UE seria limitado a “equipamento não projectado para fornecer força letal”, incluindo radares, detectores de minas, barcos e suprimentos médicos, disse o documento da UE, apesar das necessidades da SADC de material letal.
Apesar dos atrasos causados pela actividade militante, a Total ainda planeja iniciar a produção em 2024 a partir de reservas de gás estimadas em trilhões de pés cúbicos (tcf), mais do que a quantidade de gás que a UE importa anualmente da Rússia.
A empresa petrolífera italiana ENI espera iniciar os embarques de um campo de gás offshore próximo este ano, usando um terminal flutuante de GNL que pode processar apenas quantidades limitadas de gás.
Outras grandes empresas de petróleo, incluindo a gigante americana ExxonMobil, também estão operando na região.
O financiamento também visa desencorajar as autoridades locais de buscar ajuda novamente da Rússia ou da China.
A UE está também a apoiar a formação das forças militares moçambicanas através da sua própria missão de defesa no país. (Reuters)
(Reportagem de Francesco Guarascio @fraguarascio; Edição de Tim Cocks e Mark Potter)
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