Escrito por: Omardine Omar, Jornalista
INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 16 de Agosto de 2022 – Moçambique vive sem oposição, desde que Afonso Dhlakama, então Presidente da RENAMO, e Daviz Mpebo Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), perderam a vida, em circunstâncias quase similares – alegadamente vítimas de doença.
Nos últimos anos, os principais actores políticos não têm tido dentes suficientes para roer o osso; e, consequentemente, o país contínua carente de vozes mais interventivas que inspirem toda uma geração de jovens que sonham ver o velho plano de mais de 3 milhões de empregos materializados. Infelizmente, a realidade no terreno mostra um outro cenário – é importante que alguém use a camisa da revolução e aceite representar este povo abandonado e atirado à desgraça, há mais de quatro décadas.
Em face deste cenário, nos últimos tempos, alguns membros proeminentes da Sociedade Civil, que carregam consigo uma alta intelectualidade reflexiva e crítica, têm aventado candidatarem-se à presidência da República de Moçambique, nas eleições de 2024. Portanto, esta informação não chegou de bom-agrado aos corredores do poder em Moçambique, fazendo com que se levantem diferentes frentes que irão atacar académicos críticos e ministeriais, que têm corroborado com a ideia de uma candidatura vinda da Sociedade Civil, provavelmente, envolvido no desenho do manifesto do eventual candidato.
Provas concretas sobre os contornos do modus operandi do cenário acima descrito não faltam, vejam que, nas últimas semanas, alguns órgãos de comunicação social estão a ser usados para atacar pesquisadores e reconhecidos académicos nacionais, que, de tempo em tempo, criticam a administração do país actual. A ideia, no fundo, conforme demonstram dados em nossa posse, é intimidar e afugentar este grupo de intelectuais de fazer o que de melhor sabe: “pensar Moçambique pelo e para os moçambicanos”.
Deste grupo, aqueles que insistirem, o “método Chiango” será reactivado e teremos, na Pérola do Índico, novos Cardosos, novos Cistacs e porque não “novos Urias Simangos” – o jogo apenas está para começar; daí que, depois de atacarem, através de alguma imprensa, académicos e pesquisadores, como Joe Hanlon, Domingos do Rosário, Egídio Guambe e outros, no mesmo dia, o Professor Adriano Nuvunga – líder máximo do Centro Para Democracia e Desenvolvimento (CDD), uma organização que tem feito mais intervenções incómodas ao regime em alguns círculos sociais e políticos – tem sido apontado como um eventual candidato à presidência da República, pois que, na manhã da segunda-feira (15), “desconhecidos” foram deixar balas à porta da sua residência, como um sinal de aviso!
A situação estará mais agitada nos próximos dias. Caso conhecidos membros da Sociedade Civil decidam avançar com uma candidatura, “os sicários do regime” poderão vir a receber a ordem máxima para eliminar o surgimento de novos actores políticos. Entretanto, o dilema aqui é o que o dirão os cachorros do regime, que tudo não passa de uma estratégia de vitimização como forma de projectar-se e atrair a população a abraçar as suas pretensões – o discurso é e será esse, principalmente numa altura em que alguns membros da Sociedade Civil serão “capturados” para preencher certas vagas nos partidos, sejam da oposição ou da posição.
O regime não facilitará a quem se decida candidatar, uma vez que já tem, em sob-controlo, todos os líderes dos partidos políticos. Tudo farão para desestabilizar os grupos da Sociedade Civil que pretendam concorrer ao palácio da Ponta Vermelha; entretanto, a pergunta que não quer calar é: “será que, eliminando potenciais adversários sérios, estará a ser resolvido o problema ou estarão a embrutecer o povo e a fomentarem o surgimento de novos actores políticos e cívicos, mais interventivos que os anteriores?!’’