Dada a complexidade da sua paralisia, Faustino se locomove graças a ajuda da mãe e de seus irmãos. Quando deixam o pequeno Faustino para tomar o sol durante o dia, ele mantém-se no local onde faz todas as necessidades biológicas num cenário de total imundície.
Faustino não fala, não anda, usa gestos para comunicar sobre alguma necessidade e não consegue controlar os seus reflexos.
A mãe do Faustino, dona Maria José Fernando, a principal assistente do menor, é uma senhora que pratica actividade comercial no mercado Francisco Manyanga, sai de casa pela manhã e só volta ao fim do dia, deixando o pequeno a Deus dará e várias vezes sem tomar o almoço.
Dona Maria conta que já tentou colocar o seu filho numa escola pública e houve rejeição por parte dos gestores escolares, entretanto, optou por matricular numa escola privada, onde fez até quinta classe do sistema moçambicano de ensino, mas o menino acabou abandonado porque os preços da propina eram altos para o bolso da mãe.
“O pai do Faustino fugiu de casa em 2018 e fiquei sozinha a cuidar do menino, como vê não anda e só senta no mesmo sítio até que alguém lhe troque do lugar, já teve uma cadeira de rodas oferecida por uma igreja que já ficou danificada, entretanto peço ajuda porque as frutas que vendo no mercado não dá para tamanha despesas que tenho aqui em casa”, clamou Maria José Fernando.
No bairro “Bloco Nove” também na cidade de Chimoio está o menino Paulo, com a idade e características similares ao Faustino, a diferença é que o menino Paulo vive em condições relativamente boas com relação ao Faustino.
Paulo é cuidado pelos avós que atentamente, vão monitorando o dia-a-dia do menino, nunca faltou alguém para o cuidar apesar de ser desgastante perceber o que ele propriamente quer!
O pequeno Paulo nunca se sentou em um banco de escola por carecer de cuidados especiais.
João Oliveira, avó do pequeno Paulo, conta que o menino nunca andou em uma cadeira de rodas, porque não tem dinheiro para adquirir e quando quer sair de casa é carregado ao colo. “É uma situação difícil que o menino está a viver desde que nasceu e já estamos habituados, já clamamos várias vezes ajuda e ninguém nos repara”, lamentou João Oliveira.
Leopoldina Bernardo tem 27 anos de idade, vive no bairro 4 Liberdade, em Chimoio, é paralítica e mãe de dois filhos, sem se importar com sua condição física, há quem apareça para engravidar e abandonar. Foi através dessa rotina que apareceram os dois filhos da Leopoldina, um de 9 e outro de 4 anos de idade, com o primeiro a frequentar a quarta classe.
Leopoldina tem dificuldades na fala, não anda e a única cadeira de rodas que tinha está completamente danificada, recebeu do governo que não se responsabilizou pela manutenção do meio circulante.
Leopoldina agora tem dificuldades de se locomover e para ir à casa de banho tem sido um autêntico calvário. “Se tivesse uma carinha de rodas, pelo menos estaria ajudando a mãe nos negócios que faz, porque assim como está a vida dela está tornar se difícil”, disse Bernardo Bernardino, pai da Leopoldina.
A Associação Tariro Esperança Para Todos é uma agremiação que no âmbito do projecto de Educação Inclusiva está focada a partir deste ano, no apoio e assistência a pessoas com Necessidades Especiais, sendo assim Faustino e Paulo, para além da Leopoldina Bernardo constam dos cadastros daquela agremiação e já começaram a receber apoios multiformes.
É um desafio que a Associação Tariro Esperança Para Todos tem pela frente, uma vez que há pais que escondem seus filhos, porque apresentam condições físicas que necessitam de cuidados especiais, mas segundo Adelino da Costa, Director-Geral da agremiação, tem consciência das dificuldades que irá encarar durante as triagens do principal grupo-alvo.
A ideia da Associação Tariro é criar um centro de acolhimento, onde vai albergar 100 pessoas com Necessidades Especiais em regime de internato e outros em números não definidos que poderão ter assistência no centro sem que propriamente sejam internados.
“É um desafio que teremos pela frente, uma vez que não será fácil, porque os pais ou familiares das pessoas que são o nosso grupo-alvo, fecham-se muito e temos informações que há várias crianças com Necessidades Especiais que dificilmente são deixadas pelos familiares a conviverem com outras normais e para revertermos essa situação teremos que contar com o apoio de toda a sociedade”, concluiu da Costa, para quem explicou que a agremiação que dirige está a contratar psicólogos e técnicos de outras áreas de saúde para materialização do projecto.
Há várias pessoas com Necessidades Especiais que o governo moçambicano e outras instituições não dão uma mão em forma de ajuda pelo que a iniciativa da Associação Tariro Esperança Para Todos será pioneira ao nível da província de Manica e provavelmente do país. (Omardine Omar)