- Aí minha mãe do céu! Se é para continuar a viver assim que seja no seu leito.
- Os bons momentos esses um dia chegarão…
Continuava assim, sempre a batalhar e pronto a servir por tudo que der e vier. A esperança jamais morreria enquanto honrava na terra a vida da sua saudosa e carinhosa mãe.
De biscato à biscado, a sola do sapato gastava-se por completo, mas isso motivava-lhe a continuar, porque no final do dia conseguia o seu farnelo de forma honesta e digna.
Enquanto ganhava aos pouquinhos, esperava também pela sua indeminização pela reforma que nunca se fazia sentir passados oito anos de intenso pavor e recorrências ao tribunal. Este era o grande martírio, a pedra no sapato, a gota de água no oceano, a luz que nunca acendia mesmo colocadas pilhas novíssimas. Os defensores públicos e privados já conheciam o caso, até fazia algumas farpas:
- Está cheia de poeira, tens que sacudir antes que provoquemos doenças.
- Pinta o cabelo, está cheio de barbas brancas.
Coitado do velhinho! Só olhava e baixava o rosto. (José Mulodiua)