Escrito por: Omardine Omar, Jornalista
INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 05 de Agosto de 2022 – O crime agitou o quarteirão. Todos queriam saber quem teria cometido tamanha barbaridade. No quintal onde ocorreu a festa que levou Romildo a sair de Guava a Mahotas, os sentimentos misturavam-se. Enquanto outros choravam, alguns amarravam o rosto e denunciavam uma particularidade criminosa e suspeita. Naquele dia, a polícia recolheu algumas pessoas à esquadra, no intuito de usar outros métodos de persuasão para chegar ao âmago da questão – em causa estava quem teria cometido o hediondo crime!
Perante aquele cenário ensurdecedor, que se vivia no Quarteirão 21, as duas meretrizes que um dia antes haviam dançado e saboreado algumas garrafas de 2M com Romildo, regavam o chão de lágrimas. E tudo piorou quando a polícia deu um tratamento pouco esperado e alimentou, por horas, o debate na zona – elas foram atiradas para o fundo dos bancos do Mahindra, como se de caixotes vazios se tratassem. Mas não, elas eram as criminosas – os verdadeiros estão escondidos na preocupação de quem havia assassinado Romildo, ao invés de facilitar a investigação da polícia, revelando em que contexto tudo havia ocorrido.
Todavia, como assassinato é assassinato, e o agravante em relação à tentativa de ocultação de corpo, acabou demonstrando que a acção foi realizada por um grupo de pessoas que não teve tempo suficiente para ocultar os vestígios. Ademais, prova disso é que as crianças da casa vizinha viveram tudo por perto, pelo que, na hora do interrogatório, revelaram detalhes que o grupo não imaginava – já na esquadra, os menores contaram que houve uma luta entre o finado e um outro bêbado, e nesse combate, um deles acabou por pegar no machado e aplicou um duro golpe em Romildo!
Aflitos, o criminoso, a dona de casa e um outro convidado, lavaram a ferida e colocaram medicamento, pensando que se tratava de um mero desmaio, mas não, acabavam de assassinar um ser igual a eles. Assim, visando atirar a culpa para outros, foram depositar o corpo sem vida na linha férrea, na esperança de que a locomotiva, que diariamente passa por ali, logo pela madrugada, faria o resto – mas não aconteceu (…).
Já na esquadra, perante a rudez dos agentes e o depoimento das crianças, as meretrizes foram soltas e os verdadeiros criminosos detidos – no meio deste enredo, a verdade veio à tona e a dona da casa, que no dia tentou afastar teatralmente a cena do crime do seu meio, acabou por entrar no xilindró e deixar sua casa desgovernada por um esposo bêbado, filhos menores que irão crescer sem o seu amparo e, acima de tudo, uma vida destruída, numa noite, cujo objectivo era simplesmente se divertir e agradar uma das filhas que, naquele dia, completava mais um ano de vida – talvez Deus já havia escrito o destino de todos os implicados e tantas maldades que eles cometeram em terra, acabaram dando espaço para pagar pelos seus pecados no mundo terreno, na língua de Santo Agostinho – aliás, como diz um certo adágio: cá se faz, cá se paga!
Terá sido isso? Talvez, mas também pode não ter sido assim – o tempo responderá, mas os dias de todos os envolvidos já não serão os mesmos; e talvez a data natalícia da menor já não terá igual sabor de antes, pois tudo que será lembrado, será a morte de Romildo, que levou “a matriarca da casa para o xilindró e atirou a família para os anais negros do Bairro Mahotas, concretamente no Quarteirão 21!”