Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP), alcançou 40,1% dos votos, contra 33,5% de Hou Yu-ih (Kuomintang, KMT) e 26,5% de Ko Wen-je (Partido do Povo de Taiwan, PPT).
Horas antes da abertura das urnas, os EUA haviam alertado que “seria inaceitável” que “qualquer” país interferisse no pleito. Com o resultado, Biden foi questionado por jornalistas e deu uma resposta tão protocolar quanto enfática: “Não apoiamos a independência.”
Taiwan é uma ilha que a China considera uma província rebelde e parte inalienável de seu território. Com uma história de sucesso democrático desde a realização das suas primeiras eleições presidenciais diretas, em 1996, Taipé é hoje um dos assuntos mais sensíveis para o regime de Xi Jinping e fonte recorrente de tensões entre Pequim e o Ocidente.
Os EUA são o mais importante patrocinador internacional e fornecedor de armas de Taiwan, apesar da falta de laços diplomáticos formais com a ilha.
O secretário de Estado Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, parabenizou Lai Ching-te por sua vitória e disse que os EUA “estão comprometidos em manter a paz e a estabilidade no Estreito e a resolução pacífica das diferenças, livres de coerção e pressão”.
Ele disse que os EUA esperam trabalhar com Lai e líderes de todos os partidos em Taiwan para promover seu “relacionamento não oficial de longa data, consistente com a política dos EUA de ‘uma só China'”.
A Casa Branca temia que a eleição, a transição e a nova administração aumentassem o conflito com Pequim. Biden tem trabalhado para suavizar as relações com a China, uma missão que incluiu um raro encontro presencial com Xi na Califórnia, em novembro passado.
No mesmo dia da cúpula de líderes, no entanto, o presidente americano cometeu uma gafe diplomática ao se referir a Xi como um ditador —novo exemplo da relação de morde e assopra entre as duas potências que protagonizam essa espécie de Guerra Fria 2.0.
Entre os outros governos que já se manifestaram sobre o resultado do pleito, o do Reino Unido descreveu as eleições como “um testemunho da vibrante democracia na ilha”. O chanceler David Cameron afirmou esperar que o resultado “renove os esforços para resolver as diferenças de forma pacífica”, numa referência às relações com Pequim.
No mesmo sentido, a chanceler do Japão, Yoko Kamikawa, afirmou que espera que o novo governo “contribua para a paz e a estabilidade na região”.
Em tom mais ácido, a Rússia, aliada da China de Xi, disse por meio de seu Ministério das Relações Exteriores que continua a ver Taiwan como parte integrante da China, não um território independente.
Autoridades do governo de Taiwan dizem que já têm expectativas de que a China tentará pressionar Lai nos próximos dias. Isso pode se dar por meio da realização de manobras militares perto da ilha, por exemplo, uma vez que Pequim nunca renunciou ao uso da força para garantir que Taipé siga sob o seu controle.
Numa demonstração de apoio ao governo, Biden planeja enviar uma delegação não oficial, formada por democratas e republicanos, para a ilha autônoma, de acordo com relatos de autoridades à imprensa, sob anonimato.
Seria uma reedição de eventos semelhantes ocorridos no passado. A China ficou irritada em 2016, quando o então presidente eleito, Donald Trump, falou por telefone com a presidente Tsai Ing-wen, de Taiwan. Fora a primeira conversa desse tipo entre os líderes dos EUA e de Taiwan desde que o presidente Jimmy Carter mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China em 1979.
FOLHA DE SAO PAULO Com Reuters