Até 4 de Janeiro de 2024, Moçambique havia registado oito mil e 482 casos de cólera, 20 óbitos e uma taxa de letalidade de 0.2 porcento, estando afectadas seis províncias. Para combater o alastramento da doença, o MISAU lançou esta campanha de vacinação para as províncias de Cabo Delgado, nos distritos de Chiúre e Montepuez, Zambézia, nos distritos de Gilé, Gurué e Mocuba, Tete, em Mágue, Moatize e Zumbo, e na província de Sofala, especificamente no distrito de Milange.
Falando à imprensa esta sexta-feira (05/01), a directora nacional adjunta de saúde pública, Benigna Matsinhe, justificou que foram seleccionadas estas cinco províncias não só por estarem a responder a um surto de cólera, mas também por terem distritos propensos à doença.
A campanha vai durar cinco dias, de segunda a sexta-feira (12/01), e serão vacinadas pessoas de pelo menos um ano de idade.
Para a campanha, foram mobilizados sete mil e 37 actores, divididos em mil e 136 equipas, constituídas vacinadores, mobilizadores, digitadores de dados e motoristas.
De acordo com Benigna Matsinhe, para a efectivação da campanha de vacinação da próxima semana, o MISAU mobilizou, com os seus parceiros, 1.3 milhões de dólares norte-americanos, o equivalente a mais de 63 milhões de meticais. “É uma campanha bastante onerosa e incorre em grandes gastos para o governo. Estes recursos são contribuição não só do governo, mas também dos parceiros de cooperação que trabalham no nosso país na área de saúde”, disse a directora.
MISAU apela para o engajamento comunitário
Segundo Benigna Matsinhe, o sucesso da campanha dependerá do envolvimento das comunidades dos distritos abrangidos. “Estamos esperançosos de que, à semelhança das campanhas anteriores, vamos ter a mesma adesão, mas gostaríamos de pedir colaboração de todos, incluindo a população, as autoridades locais e líderes religiosos. A vacina protege, é segura e oral, portanto, não haverá injecção”, disse a fonte, acrescentando que a população afectada conhece a importância da vacina contra a cólera.
Nos últimos meses, registam-se em Moçambique casos de violência protagonizada pelas comunidades aos líderes ou agentes da saúde, devido a mitos segundos aos quais estes são os principais vectores da doença. Parte dos distritos onde os mitos e violência ocorrem está envolvida nesta campanha de vacinação.
Benigna Matsinhe informou que o MISAU está ciente da situação e uma das estratégias a serem usadas pela instituição é o envolvimento de todos na campanha. “Estamos a envolver a todos para fazerem educação no sentido de mobilizar e explicar às pessoas sobre a doença. Por exemplo, vamo-nos deslocar brevemente ao Gurué, na província da Zambézia, onde ocorreu um desses casos de violência para sensibilizar a população”, avançou Matsinhe, acrescentando que outra estratégia sendo usada pelo MISAU é “pegar os agitadores”, aqueles que fazem a confusão, para trabalharem directamente com os agentes da saúde.
Saúde recomenda compra da “Certeza”
A “Certeza” é um produto usado no tratamento e purificação da água. Uma das estratégias sendo adoptada pelo governo de Moçambique é a distribuição da “Certeza” nas comunidades.
De acordo a directora, a “Certeza” é distribuída casa-a-casa por agentes comunitários. A fonte informou ainda que, nos distritos onde se regista cólera, todos os doentes internados e as comunidades vizinhas recebem o produto para usarem-no no tratamento da água que consomem.
Benigna Matsinhe disse que as comunidades podem não apenas esperar pela “Certeza” do governo, mas também comprar o produto. “A certeza não é um item caro, custa apenas 50 meticais. Podemos, como população, comprar a certeza. Um frasco de certeza pode tratar uma média de 30 bidões de 20 litros de água”, disse a directora.
Governo já tem “Plano” para eliminar a cólera
A cólera é uma doença de origem bacteriana, causada por um vibrião, contagiosa e que provoca diarreia aquosa, vómitos e cãibras. A manutenção da higiene individual e colectiva é uma das estratégias para o combate à doença. Vários distritos moçambicanos continuam com condições precárias de saneamento. Há regiões onde a população, por não ter infra-estruturas de água, obtém o recurso em lagoas, rios ou poços, colocando-se ao risco de contrair a cólera.
Nos últimos anos, o MISAU tem se dedicado à realização de estudos sobre a cólera e outras doenças de origem hídrica. Segundo Benigna Matsinhe, os estudos mostram que, em Moçambique, existem ainda “grandes áreas” do país onde, por exemplo, o fecalismo a céu aberto é uma prática e onde o acesso à água é insuficiente. “Para minimizar a situação, já temos um Plano Conjunto de Eliminação da Cólera e a base para a elaboração deste documento são os estudos. A nossa estratégia para estas áreas é continuar a fazer educação para a saúde nas comunidades e é aí onde é-nos imperioso, como governo, fazer a distribuição da “Certeza” para o tratamento da água que as pessoas consomem”, concluiu a directora. (Texto: ICS)