Osas
A quadra festiva, além de representar um período de celebração, coincide com as férias de muitos trabalhadores e estudantes, proporcionando um momento de alívio, após um ano desafiador. No entanto, essa euforia pode impactar a capacidade das pessoas em distinguir entre comportamentos seguros e de risco.
Durante os períodos festivos e de férias, é comum que parceiros “cornudos” retomem as suas relações com namoradas ou mulheres oficiais, criando um cenário de “triângulo amoroso widiano”, pois há um terceiro elemento que, na sua ausência, fica a fazer a manutenção. Nessas relações, baseadas na confiança, o sexo frequentemente ocorre sem preservativo, mesmo quando novos parceiros entram em cena, na ausência do parceiro oficial. Nisso, o teste de HIV (Vírus de Imunodeficiência Humana) não é mencionado, e o uso do preservativo é negligenciado, mesmo após um longo período de distância entre os parceiros.
O aumento contínuo das taxas de novas infecções por HIV, apesar das extensas campanhas de conscientização e distribuição de preservativos, aponta para desafios complexos que vão além da mera questão do uso inconsistente desses métodos de protecção. Nos últimos três anos, a média de novas infecções é de 96,302. Ao nível da África Austral, todos os dias, cerca de 4.000 pessoas – incluindo 1.100 jovens (de 15 a 24 anos) – são infectadas pelo HIV; destes jovens, meninas adolescentes e mulheres jovens têm três vezes mais chances de adquirir o HIV em relação aos seus pares masculinos.
Há aspectos sociais e culturais profundos que merecem reflexão. A percepção arraigada de que o sexo sem preservativo é mais prazeroso ou íntimo tem influência significativa no comportamento sexual. A abordagem desses aspectos exige uma análise detalhada da eficácia dos programas educacionais em fornecer informações inclusivas sobre prevenção de ITSs (Infecções de Transmissão Sexual).
Além disso, o estigma associado ao HIV e à testagem pode ser um obstáculo para muitos em buscar orientação e cuidados de saúde. Aspectos sócio-económicos, como acesso limitado a recursos, bem como desigualdade e pobreza, também desempenham um papel fundamental na disseminação contínua do vírus. Abordar essas questões culturais e sociais exige uma compreensão mais profunda dos valores arraigados e da dinâmica social que influenciam a percepção de risco e comportamentos sexuais, para, a partir disso, criar estratégias mais eficazes de prevenção.
Paralelamente a essas preocupações, o descuido em relação à prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis, incluindo o HIV, é evidente. A falta de preservativos disponíveis, especialmente em locais de entretenimento, como bares e discotecas, contribui para esse cenário. A confiança mútua entre casais, embora importante, muitas vezes, não é suficiente para prevenir o risco, especialmente com o aumento de casos de traição e relacionamentos extraconjugais. Isso resulta em relações sexuais sem protecção, aumentando o risco não apenas de gravidez indesejada, mas também de contrair ITSs.
Como constatado em vários estudos, em relacionamentos regulares, a confiança reduz o uso de preservativos. A confiança e o amor proporcionam uma sensação de imunidade imaginária à infecção. No entanto, a exigência ou insistência do uso do preservativo pelo parceiro fixo é visto como uma falta de respeito e confiança, indício de traição, que pode resultar em suspeitas e discussões entre os parceiros, bem como destruir a reputação de alguém dentro do grupo de pares.
A frase icónica “não confias em mim?” é uma clara ilustração disso. As normas sociais interferem na medida em que as mulheres jovens, que carregam preservativos, correm o risco de serem rotuladas de vadias ou promíscuas. Não recebem a confiança dos homens, pois estes acreditam que se ela não estiver com ele, poderá usar com outros homens. É, por isso, prática de homens e mulheres em relacionamentos longos, estáveis e confiáveis, andar sem preservativos, como sinal de amor e fidelidade.
Por exemplo, em situações de sexo pago entre um sugar daddy e uma marandza, a prática é sexo widas, muitas vezes, exigido pelo mapaga-bem. O não cumprimento do pedido resulta numa oportunidade económica perdida.
Adolescentes e jovens, especialmente aqueles associados à “Team Widas”, frequentemente compartilham crenças e hábitos relacionados ao sexo desprotegido em seu dia-a-dia. Muitas vezes, eles acreditam que o(a) parceiro(a) com quem se envolvem não apresenta sinais de ITS/HIV, o que os leva a confiar apenas na fé, acreditando que podem desfrutar do prazer celestial, pois widas é a cena.
Essa fé professada difere da dos usuários da fé cristã e tradicional, em que a cura pela fé está relacionada ao uso da própria fé para curar, gerir e prevenir doenças, através de orações e jejum. No entanto, entre esses jovens, existe uma crença e confiança hipotética que os levam a dispensar o uso de preservativos ou mesmo a evitar discutir sua utilização.
Medidas de protecção, como o teste de HIV e o uso de métodos contraceptivos, também têm um efeito contrário, sendo vistos como incentivos para o sexo desprotegido. Um resultado negativo no teste de HIV e o uso de contraceptivos (DIU, implante, etc.) são percebidos como uma permissão implícita para relações sexuais sem protecção. Isso gera uma falsa sensação de segurança e minimiza a preocupação com as ITS, encorajando o sexo sem proteção. Uma vez realizados, muitos indivíduos não consideram repetir esses procedimentos, mesmo com comportamentos de risco.
Na cultura desses jovens, a aparência e a reputação, muitas vezes, determinam a confiabilidade, exacerbando o risco associado a práticas sexuais sem protecção. Essa percepção é agravada pela crença generalizada de que os preservativos diminuem o prazer durante o sexo, não traz boas sensações, têm pequenos orifícios ou podem desaparecer na vagina, além do aspecto relativo à baixa qualidade de preservativos, principalmente os de distribuição gratuita.
Adicionalmente, durante este período, as campanhas de prevenção ao HIV, embora essenciais, geralmente, recebem menos atenção, pois a preocupação tem disso à volta de outras questões, como acidentes de trânsito, condução sob influência do álcool e a posse de carteira de motorista.
As recentes campanhas do Ministério da Saúde (MISAU) e seus parceiros sobre “Namoro Seguro” e “Testagem do HIV” são fundamentais, mas carecem de uma abordagem mais cativante para o público jovem. É crucial adoptar uma linguagem directa e envolvente, comunicando os benefícios de conhecer o status sorológico e usar preservativos. Ou seja, a mensagem deve ser incisiva, destacando que “Conhecer seu status oferece controlo sobre a saúde e liberdade para viver com segurança”. Uma abordagem mais assertiva é recomendada para atrair aqueles envolvidos em comportamentos de risco e transmitir a importância da adesão aos serviços de prevenção. Isso é essencial para reduzir as taxas de novas infecções por HIV nesse grupo.
É, por isso, crucial que o Governo adopte estratégias específicas, durante os períodos festivos, como a campanha “Cada Carteira um Preservativo”. Essa iniciativa tem o objectivo de facilitar o acesso aos preservativos, não apenas para casais, mas para todos, garantindo que estejam disponíveis em locais de entretenimento e estabelecimentos públicos. Essa abordagem é essencial para combater o aumento das infecções, uma vez que a negligência na prevenção continua a contribuir, significativamente, para a propagação do HIV e de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis.
É, por conseguinte, fundamental acelerar a inclusão e inovação nesse contexto. Tomando como exemplo a iniciativa do PSI, no Malawi, que desenvolveu a marca de preservativos masculinos e femininos “Silvertouch”, com o slogan “Tsogolo lokhwana”, que significa “um futuro promissor e mais brilhante”. Após um ano, observou-se um aumento significativo no uso consistente de preservativos entre os jovens, de 32% para 51%. Uma oportunidade notável se apresenta à DKT, PSI Moçambique, para criar uma linha de produtos específica com identificação local, como o preservativo “Widas”, acompanhado do slogan “Widas é a cena”. Oferecendo lubrificação adequada, consistência e opções com e sem aroma, este produto poderia atrair especialmente a camada jovem, incluindo aqueles associados à Team Widas.
“O SIDA AINDA EXISTE: Combater as desigualdades, acelerar a inclusão e inovação”