INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 02 de Agosto de 2022 – Manhã agitada. Residentes do Quarteirão 21, no Bairro Mahotas, no Distrito Municipal KaMavota, na Cidade de Maputo, estavam incrédulos e a inventar versões do assassinato. Todos queriam saber o que havia acontecido. Todavia, de tantas versões que eram avançadas, ninguém sabia explicar algo com a devida clareza. Tudo estava escuro.
Ora, a Polícia, que chegou primeiro ao local do crime, limitou-se a exibir as AKMs e entregar tudo nas mãos dos estilosos agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) que, de calções e chinelos, se fizeram presente no terreno, para investigar e levar à barra da justiça os autores materiais e morais daquele hediondo crime – cuja ideia era culpar o “comboio” que diariamente circula por aquela linha!
O local, onde o corpo foi deixado pelos criminosos, fica no percurso de camponeses que, logo pelas 4hrs de madrugada, caminham em direcção ao campo de produção. Homens e mulheres ficaram engajados e paralisados, na fé, uma vez que tentavam entrar em contacto com o finado, mas não estava fácil, porque os residentes do bairro haviam lotado o local. As horas passavam, os vestígios do crime estavam ali expostos, mas os investigadores estavam centrados noutros aspectos.
Na ocasião, a nossa reportagem recolhia depoimentos de diferentes pessoas, como foi o caso de Norberto Dava, amigo e vizinho da vítima, que reside no Quarteirão 1, Bairro Guava. Dava revelou que, em vida, Romildo Zuale, um homem de 40 anos, pai de dois filhos, era trabalhador e técnico de refrigeração. “Era boa pessoa” – disse a fonte – mas viria a encontrar a morte em circunstâncias estranhas.
Segundo a nossa fonte, o dia de senhor Romildo, no Sábado (30.07), começou agressivamente, com copos de cerveja e apetites carnais activados. É provável que a busca pela satisfação dos apetites lhe tenha levado a sair de Guava para Mahotas, onde havia sido convidado para uma festa. Quando se esperava que fosse um dia que ficaria registado na memória pela positiva, principalmente para a filha mais nova do finado, que completava mais um ano de vida – as circunstâncias acabaram revelando o contrário –um dia trágico em que vizinhos e familiares viriam a ser levados à esquadra e atirados ao fundo dos bancos do Mahindra.
No local, as versões divergiam. Alguns contavam que o malogrado estava a beber, no bar da “Belinha” e, enquanto se embriagava, levantava, dançava e pegava nas “bundas” e nos “mamilos” das acompanhantes de outros fregueses que ali se encontravam, o que causava uma chuva de ciúmes e raiva nos homens ali presentes. Outras vozes, por sua vez, diziam que o homem havia sido morto pela madrugada, num outro local, e o seu corpo fora transportado para onde se encontrava estatelado, local em que, estranhamente, não havia nenhuma gota de sangue. Além disso, ele tinha todos os seus pertences!
De estórias e histórias, as atenções viraram para a casa, para onde ele havia sido convidado, e o cenário equiparava-se a um quadro recentemente pintado cujo pintor ainda não havia colocado todas as ideias na tela. Com lágrimas de crocodilo e uma camisa ensanguentada, a Polícia e a vizinhança iam construindo uma nova versão do hediondo crime.
No entanto, na ocasião, quem estava aflita era uma das meretrizes, a qual havia trocado copos e abraços com o finado – O Domingo dos crentes e da ressaca dos bêbados estava comprometido – até que, porque a situação exigia um outro exercício mental e investigativo – repentinamente, os agentes não permitiriam que ninguém saísse do pátio da casa – a dona da residência e o esposo procuravam atirar a culpa noutros, mas os indícios mostravam outro cenário – estávamos diante de um assassinato motivado pela bebedeira!
Os agentes do SERNIC, que inicialmente iam sorrindo, foram mudando de opinião, pelo que se perceberam de que alguém estava a mentir. As estórias haviam sido mal contadas. Começaram a juntar as peças, tanto que, do nada, iam provando que houve uma confusão. Assim, ao medir-se as forças, alguém terá extravasado os limites e aplicados uns golpes com recurso a um machado ou uma catana na cabeça de Romildo e, em seguida, tentou-se tapar os vestígios e o corpo foi carregado para a linha férrea, no intuito de fazer parecer que o homem havia sido trucidado por um comboio – sorte dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), que, milagrosamente, na madrugada do último Domingo (31.07), não colocou um maquinista a comandar uma locomotiva por aquela rota, deixando os criminosos com os nervos à flor da pele e sem justificação!
Portanto, o facto é que um homem foi morto em circunstâncias estranhas e com sinais de agressão extrema, tudo porque as percentagens da cevada eram elevadas e o finado, quando bebia, fazia aparecer todos os ares de grandeza! (Omardine Omar)