INTEGRITY, MAPUTO, 20 DE NOVEMBRO DE 2023 – Sara Tavares conquistou primeira notoriedade como concorrente do programa de talentos “Chuva de Estrelas”, em 1994, quando imitou Whitney Houston e acabou por vencer a primeira edição daquela produção da SIC. Um ano depois ganhou o Festival da Canção, com Chamar a Música e representou Portugal na Eurovisão, ficando em oitavo lugar. Seguiu-se então um percurso singular na música portuguesa, à conquista de um espaço próprio e de uma voz pessoalíssima, cruzando as estruturas da pop e da música urbana com a tradição africana em que cresceu e sempre se moveu, em crioulo e em português, espelhando todas as suas influências e ambições criativas em discos como Sara Tavares e Shout! (1996), Mi Ma Bô (1999), Balancê (2005), Xinti (2009) ou Fitxadu (2017), que lhe valeu a nomeação para o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa. Já este ano revelou novas canções, a caminho de um futuro novo álbum: Grog d’Pilha, Momentum, Presensa e Kurtidu, esta última publicada em setembro.
À voz criativa particular e inspiradora juntou uma consciência social crescente e constante, traduzindo todos estes ingredientes em canções feitas de uma doçura afirmativa, gentil mas sem espaço para baixar a guarda em temas como a tolerância, o racismo, a liberdade sexual (e todas as outras) e um sentido comunitário permanente na hora de fazer da música muito mais do que um conteúdo ou um objeto de consumo.
O resultado foi a unanimidade em volta de Sara Tavares. Unanimidade essa que teve reflexo imediato nas reações à morte da cantora e compositora, que se sucederam assim que a notícia foi confirmada. Entre as primeiras esteve a homenagem prestada em direto no programa The Voice Portugal, com os quatro mentores do concurso de talentos musicais a cantarem junto na abertura. António Zambujo, Sara Correia, Fernando Daniel e Sónia Tavares subiram ao palco para interpretar o tema Chamar a Música.
No Instagram, Catarina Furtado, apresentadora que também esteve presente na emissão do The Voice, partilhou: “Não tenho palavras. Só memórias. As melhores. A Sara. A Sara. Tão única. Tão completa. Tão cedo…”, escreveu a apresentadora portuguesa numa publicação. “As lágrimas que me correm são de um amor eterno. Ouçam-na. A sua música. As suas palavras. A sua doçura. Guardem o seu mistério. Para sempre, Sara.” Catarina Furtado que era precisamente a apresentadora do Chuva de Estrelas e que co-escreveu o tema “Solta-se o Beijo” com João Gil, canção que seria interpretada em diferentes ocasiões pela Ala dos Namorados e por Sara Tavares.
O Presidente de Cabo Verde afirmou que a cantora Sara Tavares continuará presente “como luz que alumia caminho”, numa mensagem publicada pouco depois de noticiada a morte da artista portuguesa de ascendência cabo-verdiana, citada pela Lusa. “Continuarás connosco, Sara, dizendo coisas bonitas! A tua luz alumiar-nos-á o caminho que ainda nos cabe, nesta terra que transitoriamente nos acolhe”, escreveu José Maria Neves na página pessoal da rede social Facebook, despedindo-se com um “até sempre, cara amiga”.