INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 28 de Julho de 2022 – É uma realidade triste que algumas famílias deslocadas dos ataques terroristas estão a passar no distrito de Metuge, em Cabo Delgado. O acesso à terra para praticar agricultura e reduzir a dependência alimentar das organizações humanitárias ainda é uma dor de cabeça.
É o cenário que vivem, por exemplo, inúmeras famílias acolhidas do centro de acolhimento de Naminaue, onde a população acolhedora, além de proibir e noutros casos arrancar suas terras, exigem valores monetários em troca, sendo para venda ou mesmo para aluguer, num contexto em que a terra em Moçambique é uma prioridade do Estado.
Em outros cenários, segundo apurou a Integrity, há famílias que viram a ser expulsas e expropriadas de vastas áreas que com suor tinham lavrado para a prática de agricultura, por supostos donos da terra, que mesmo não explorando, impedem o uso das mesmas por outras pessoas, neste caso as famílias deslocadas.
No concreto, a problemática de acesso à terra naquela região do distrito de Metuge, afecta mais de mil famílias, vítimas do terrorismo, provenientes de Muidumbe, Quissanga, Macomia e Meluco. Para agravar a situação essas famílias não têm igualmente insumos agrícolas, facto que mostra fraca abrangência da cobertura das organizações humanitárias na resposta da crise humanitária na província de Cabo Delgado.
Embora, haja casos de algumas famílias que compraram na sua maioria de combatentes de luta de libertação nacional, por terem uma pensão fixada, o problema de acesso à terra para agricultura é do conhecimento do Governo Distrital, que ainda não encontra solução desde que foi publicamente apresentado.
Mesmo assim, falando à Rádio Moçambique, Emissor de Cabo Delgado, o administrador do distrito de Metuge, António Nandanga, na sua “resposta política ” disse que o executivo local está a trabalhar com vista a responder aquilo que considera ser um desafio.
Os ataques terroristas em Cabo Delgado, começaram na madrugada de 5 de Outubro de 2017 e afectaram 11 dos 17 distritos de Cabo Delgado. Desde esse período até então, os ataques continuam, mesmo com a presença das forças da SADC e do Ruanda que se juntaram às tropas moçambicanas, apesar de capturados e destruídas várias bases terroristas.
Recentemente, foi divulgado que as tropas no terreno precisam de mais coordenação, mas por enquanto, ainda não descobriram a fonte de financiamento do terrorismo que assola a província de Cabo Delgado.
As organizações humanitárias e de monitoria do conflito, estimam que mais de 4 mil pessoas (civis e militares) perderam a vida, mais de 800 mil estão deslocadas, além de vários desaparecidos. (Mussa Yussuf, em Pemba para IMN)