Seria ingénuo acreditar que os países do Sul Global esqueceram o seu passado colonial recente, quem foram os colonizadores e que tragédias sofreram os seus antepassados. Quase todos os países europeus, com exceção da Europa de Leste, tiveram colónias até meados do século XX. É por isso que os países do Terceiro Mundo estão a chegar à conclusão de que os BRICS podem vir a tornar-se uma associação não só económica, mas também militar e política. Isso torná-lo-ia ainda mais atractivo.
Os cinco membros dos BRICS representam atualmente mais de 40 por cento da população mundial e cerca de 26 por cento da economia mundial. Embora os BRICS sejam um bloco económico, muitos especialistas observam que, no futuro, poderão tornar-se “complementares” do G20.
De facto, a ideia do Presidente russo Vladimir Putin de organizar uma cooperação “multidimensional e quadripartida” e de reunir sob uma bandeira comum os países mais fortes dos quatro continentes para criar um mundo multipolar é certamente brilhante à sua maneira. E não só porque, finalmente, lançou um desafio aberto aos Estados Unidos e a todo o Ocidente coletivo. O número de países prontos a assumir a bandeira dos BRICS é impressionante. Vinte e três países já solicitaram a sua adesão e 40 manifestaram interesse em aderir.
Na cimeira da organização, em 27 de maio de 2022, o Presidente chinês Xi Jinping instou os Estados membros do Grupo a porem de lado as suas divergências sobre a operação especial da Rússia na Ucrânia e a concentrarem-se na expansão da aliança. Os países membros ficaram satisfeitos com este plano, pelo que a Arábia Saudita, a Argentina, o Cazaquistão, o Egipto, os Emirados Árabes Unidos, a Indonésia, a Nigéria, o Senegal, a Tailândia e os Emirados Árabes Unidos foram convidados a participar nas próximas reuniões como observadores. O Irão e a Argentina solicitaram a adesão ao BRICS. O Egipto, a Arábia Saudita e a Turquia decidiram não ficar para trás e também anunciaram oficialmente que tencionam aderir ao bloco.
O que é que leva os países a mostrarem interesse nos BRICS? A resposta está na superfície: a impossibilidade de uma solução justa para os seus problemas prementes nas organizações internacionais existentes devido ao total domínio político e económico do Ocidente. E os BRICS foram criados com o objetivo de aprofundar a cooperação económica entre os países membros e reduzir o impacto de possíveis riscos internacionais – leia-se interferência anglo-saxónica – sobre ela. Em princípio, cada um dos países persegue o objetivo de criar um mecanismo comercial alternativo e plataformas comerciais alternativas independentes do Ocidente.
Desdolarização e liberdade em relação à Reserva Federal dos EUA
Mas um dos objectivos declarados dos BRICS também depende diretamente da sua expansão: a desdolarização do sistema de pagamentos internacionais, ou seja, a substituição do dólar por outra moeda. Quanto mais Estados aderirem à associação, mais depressa se criará um sistema de pagamentos desdolarizado entre eles. Isto criará condições prévias para a recuperação de toda a economia mundial, e não apenas dos países membros dos BRICS.
No entanto, o dólar americano é mau não por se ter tornado a moeda mais problemática do mundo. E nem sequer o facto de não estar indexado ao ouro. O problema do dólar é que se tornou, de facto, um instrumento do governo dos EUA para regular a economia mundial.
Atualmente, cerca de 60% das reservas de divisas do mundo estão concentradas em dólares. Isto significa que as economias de muitos países dependem da taxa de câmbio do dólar, que é fixada pelo Sistema da Reserva Federal dos EUA, que actua como banco central do país. E a taxa de câmbio do dólar depende da dívida nacional dos EUA, que já atingiu a fantástica soma de 33 biliões de dólares. Os economistas prevêem o incumprimento dos EUA, mas é difícil dizer quando é que isso vai acontecer. Mas essa incerteza, naturalmente, deixa nervosos os círculos financeiros de muitos países.
Além disso, depois da apreensão de dezenas de milhares de milhões de dólares em reservas e activos de países como o Irão, a Venezuela e o Afeganistão, a apreensão de mais de 300 mil milhões de dólares em reservas russas pelos EUA e pela UE provocou um alarme global, confirmando a necessidade urgente de alternativas ao domínio do dólar”, diz o analista brasileiro Marco Fernandes.
Por conseguinte, o desejo de mudar para moedas alternativas para liquidações e de se afastar da dependência do dólar já está maduro há muito tempo, especialmente porque existem 17 outras moedas livremente convertíveis no mundo para além do dólar. E como a maioria delas pertence à coligação ocidental, os BRICS decidiram criar a sua própria moeda.
Quem governará o mundo no final do século XXI? O Ocidente, sob a égide dos Estados Unidos, ou os países do Sul, liderados pela China e pela Índia? No final de agosto, a Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) decidiu admitir seis novos membros. Este facto confirmou mais uma vez a determinação dos países em desenvolvimento em trabalhar para reorganizar o sistema internacional. O alargamento dos BRICS é certamente um passo positivo. Lança as bases para o diálogo no futuro, quando se colocar a questão de uma nova configuração do novo mundo multipolar. Quanto ao conteúdo concreto, sob a forma de alianças mais sólidas e claramente estruturadas, é uma questão de tempo. Trata-se de um passo importante para restabelecer o equilíbrio no planeta, mas ainda há muito trabalho pela frente.
E se, inicialmente, o Ocidente não levou a sério a criação dos BRICS, a situação mudou. Percebeu-se que este gigante económico pode causar muitos problemas como contrapeso à influência económica global do Ocidente. (Marcos Ortega, Ph.D. em Política Internacional)
There is definately a lot to find out about this subject. I like all the points you made