Escrito por: Omardine Omar, Jornalista
Há dias, o iconizado General Alberto Joaquim Chipande voltou a disparar mais alguns tiros. Desta vez, foram tiros de palavras proferidas perante uma plateia ladeada por diferentes personalidades do partido Frelimo, com principal destaque para os jovens da “J”. No amplamente divulgado encontro, o General Chipande falou como se vivesse em Meca ou no Vaticano. Atirou tantas pedras para o telhado, ao ponto de se esquecer que o mesmo telhado de vidro também cobria a sua casa – talvez seja por pensar que todos moçambicanos são distraídos e não acompanham as peugadas dos grandes generais desta empobrecida pátria!
Se a mensagem que o General Chipande passou viesse de uma outra “boca autorizada”, talvez não dedicaria estas linhas reflexivas para entrar neste debate, que alguns estão a vitimizar-se mais, em vez de debater a partir dos pressupostos que são visíveis em tudo que é instituição pública e privada deste País.
O tribalismo, em Moçambique, jamais saiu das cabeças dos velhos e, de forma científica e formativa, foi sendo passado para as diferentes gerações. Hoje, as pessoas estão mais agrupadas do que nunca! Hoje, os ensinamentos da velha guarda tornaram Moçambique num espaço em que o seu nível académico só tem peso num determinado meio, se for proveniente de uma determinada tribo – e é exactamente isso que acontece actualmente com a tribo do General!
Trata-se, pois, de um País macondizado, machanganizado, machuabizado, macuizado, ronguizado, tsopizado, ndauzado, etc. Hoje, temos associações tribais por tudo que é canto e existem instituições nas quais só trabalham pessoas de uma determinada Província ou tribo. Embora a questão ainda esteja a ser tratada de forma leviana e com base nos argumentos do General Chipande, o facto é que esta mensagem não pode morrer na velha máxima segundo a qual: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.”
Se a ideia do discurso do General for essa, logo, não faz sentido algum, uma vez que, para quem circula por este País, concretamente na Província de Cabo Delgado, sabe que o General é dono de várias coisas – e até locais proibidos pertencem ao General. Numa Província em que existem outras etnias/tribos, apenas uma é valorizada e detentora de todo poder económico, político e relevância social.
Em relação a este facto, é só recuarmos a memória para o ano 2018, quando máquinas escavadoras roncando a fúria dos desmandos ‘da tribo’ do General, invadiram o quarteirão 24, na Cidade de Pemba, e sem qualquer ordem judicial, demoliram casas de famílias que já se encontravam naquele local há mais de 30 anos. Todavia, devido à força étnica, os detentores do poder actual no País expulsaram os pobres plebeus porque, alegadamente, os 12 hectares eram do General. E até aqui, o espaço permanece vazio e os cidadãos expulsos voltaram a arrendar outras casas, mesmo depois do investimento sacrificial que fizeram.
Actualmente, é a tribo do General que manda em ‘quase’ tudo no País. Mesmo os que nada sabem, ocupam cargos relevantes, mas não são mexidos porque gozam do valor étnico do Nível A, em relação a um competente técnico de uma tribo sem expressão. A situação é realmente estrutural. Está nas entranhas do sistema governativo vigente. Veja só como estrangularam as universidades em nome de uma descentralização que centralizou as etnias e expulsou a tão propalada unidade nacional – o melhor seria que as instituições fossem fundadas localmente e caminhassem por si mesmas, mas, infelizmente, fez-se, num âmbito de vontades étnicas e não na perspectiva nacional.
Portanto, o tribalismo é fomentado por pessoas ligadas ao poder, principalmente do partido Frelimo, independentemente do local em que tal indivíduo estiver a nível nacional, este conflito continua latente. Assim, as etnias, em Moçambique, estão em constantes conflitos. Pode até não estar patente ao olho nu, porém, o tribalismo e o regionalismo são uma realidade, e existem os que promovem mais que os outros – os quais estão no partido que o General dirige, daí que há quem irá odiar-me por escrever este texto.
Neste momento, o General deve estar a pensar que a próxima etnia a ter de responder na justiça seja a sua, uma vez que, nesta década, são os macondes que mandam em tudo. É só olhar ao seu redor ou circular por algumas instituições e ver o que está a acontecer – o General é dono de tudo, numa Província onde existem outras etnias. Leva tudo que lhe apetece e pretende, sem precisar de consulta pública, pelo que quem reclama, já sabe que Miéze será a sua casa!
Por estas e outras razões, não é em vão que a situação do tribalismo e regionalismo sempre vem à tona quando se aproxima o período eleitoral, porque só assim é que os que governam continuarão a tribalizar-nos, a odiar-nos e matar-nos, enquanto isso, seus negócios e suas vontades materializam-se, ao mesmo tempo que garantem riqueza eterna para os seus descendentes!