Por: Omardine Omar
Chamava-se Miguel Vicente, nascido no planalto dos makondes, no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado. Miguel Vicente era um visionário humilde e que só revelou os seus tentáculos nos meados de 2014 durante o pleito eleitoral!
Dedicado aos estudos e com notas agressivas que arrepiavam os mais novos. Miguel Vicente tinha uma carta na manga que ninguém imaginava! Já em 2012 ele já havia previsto que o seu “amigo-irmão” da infância, de lá das matas da aldeia Namau, seria o futuro presidente da República de Moçambique. Militante apaixonado pelo batuque e pela maçaroca, sonhava em terminar a licenciatura, mestrado e doutoramento e abrir espaço para os mais novos em Cabo Delgado; terra hoje martirizada pelo terrorismo.
Durante horas, Miguel Vicente reflectia como tornar a sua bela terra, num local de referência local, nacional e internacional onde a juventude e não só teriam oportunidades sociais, políticas e económicas. Miguel Vicente sonhava com uma vida, onde as condições básicas de vida seriam facilmente suprimidas através da educação e emprego. Embora professor de formação e em exercício, Miguel Vicente pensava num Cabo Delgado e Moçambique diferente.
Miguel Vicente, bolseiro do sector da educação em Cabo Delgado, seguia um percurso académico invejável até que no quarto ano do curso foi encavilhado por um docente fazendo-o reprovar a uma disciplina, História de Moçambique. Excluído naquela disciplina nuclear e com uma nomeação a Inspector Provincial do Sector de Educação à espera, Miguel Vicente caiu doente, com o corpo paralítico e sem forças; foi transportado de Maputo para a 3ª maior baía do mundo, Pemba. Recuperou da doença e veio fazer a disciplina em falta, com sequelas da doença. Terminou a disciplina curricular e voltou a ter uma nova recaída. Teve que voltar para casa, com sinais de melhoria, quando faltavam dois dias para a defesa da monografia científica teve mais uma recaída (parece que o diabo não o queria largar). No dia da sua defesa Miguel Vicente perdeu a vida.
Sepultado no planalto dos Makondes, Miguel Vicente era um amigo sonhador do Presidente e foi enterrado no primeiro ano de mandato do seu grande irmão. Os sonhos de Miguel Vicente rebatiam a tese de que alguns estudos sobre as causas do terrorismo apregoam, infelizmente ele perdeu a vida dois anos antes dos terroristas destruírem sonhos e projectos de vidas como aqueles que o amigo do presidente sonhava: um Cabo Delgado próspero e diferente.
Os contornos da vida de Miguel Vicente parecem terem partido junto com ele no túmulo e que homens iguais têm uma característica comum: partir cedo! Miguel Vicente, caso estivesse em vida seria um lutador incansável para estabilidade e a triste realidade que o povo que lhe viu nascer vive, hoje. Miguel Vicente deve estar a revirar-se no túmulo por tudo que está passar! O amigo do presidente que morreu com a vontade de fazer mais pelo povo…
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