Militares do Níger anunciaram, na quarta-feira à noite, a queda do governo do presidente Mohamed Bazoum, em declaração lida por um deles na TV nacional em nome da Guarda Presidencial, conhecida como Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP).
— Nós, as forças de defesa e segurança reunidas no seio do CNSP, decidimos pôr fim ao regime —declarou o coronel-major Amadou Abdramane, ao lado de outros nove oficiais. — Isto se deve à deterioração contínua da situação da segurança e à má governança econômica e social.
O militar também informou que “todas as instituições” do país estão suspensas e que as fronteiras terrestres e aéreas permanecerão fechadas “até a estabilização da situação”.
— Um toque de recolher foi instaurado em todo o território a partir de hoje, das 22h às 5h, até segunda ordem — acrescentou.
A declaração culmina um dia de tensão em Niamei, capital do Níger, no qual a Guarda Presidencial (GP) manteve o chefe de Estado Bazoum retido na residência oficial desde a manhã. O regime descreveu o movimento da GP como um “golpe”, e uma fonte ligada a Bazoum disse à AFP que a intentona golpista estava “destinada ao fracasso”.
O Níger, afetado em diversas partes de seu território pela violência jihadista que se estende pelo Sahel, era comandado pelo presidente Bazoum, eleito democraticamente, que está no poder desde abril de 2021.
A história do enorme país pobre e desértico foi manchada por golpes de Estado desde que conquistou a independência da França em 1960, houve inúmeras tentativas de golpe no país, quatro delas bem-sucedidas — a última em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, a ONU, a União Europeia, a França — que tem presença militar no Níger — e os Estados Unidos condenaram o movimento militar. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu a “libertação imediata” de Bazoum e advertiu que a entrega de ajuda financeira americana ao país africano depende da “manutenção da democracia”.
Mais cedo, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) confirmou a “tentativa de golpe de Estado” e manifestou o seu “espanto e preocupação”, exortando “os autores deste ato a libertarem imediata e incondicionalmente o presidente da República democraticamente eleito”.
A União Africana (UA) condenou a “tentativa de golpe de Estado” e pediu o “retorno imediato e incondicional dos militares traidores aos seus quartéis”. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, também manifestou a sua rejeição à ação e disse estar “muito preocupado”, afirmando que o bloco “condena qualquer tentativa de desestabilizar a democracia e ameaçar a estabilização do Níger”. (GLOBO)