Escrito por: Omardine Omar, Jornalista
Greve, fizemos todos os dias! Quando chegamos às nossas casas e encontramos as panelas zangadas. Quando vemos as nossas mamanas a caminhar pelas ruas e avenidas com rosto rasgado de rasga-mantas, a exibir o sofrimento de décadas num só rosto. Quando polícias que deveriam estar a proteger as nossas towns enveredam pelo caminho do crime organizado e molestam a nossa paz social em troca do dinheiro fácil da team dos raptos e dos narcóticos!
Nós já vivemos num Estado em constante greve – porque a fome que as crianças passam e os adultos enfrentam, indiciam o estado de coisas em que fomos submetidos e quem nos submeteu, quando se assusta um pouco, coloca todos os seus ”cães” em estado de alerta e a rugir por tudo que é canto e porta, transformando um lindo dia de Quinta-feira num ”Domingo de frio e chuva!”
Quando cavalgamos pelas artérias da cidade, percebemos o quanto estamos em greve. Quando abrimos as nossas redes sociais e programas televisivos, verificamos que somos autênticos grevistas, mesmo que não queimemos casas, lojas ou pneus de carro. O nosso silêncio inocente, durante décadas de estupro, já demonstra o quanto somos grevistas – e hoje, as pessoas apenas acordaram assustadas. Com medo de viver a sua liberdade. De caminhar pelas ruas como um homo libero – mas não! Na capital moçambicana, Cidade de Maputo, e na martirizada Matola, as pessoas ficaram em casa, a dar continuidade à greve que diariamente são realizadas e todos nós vimos, mas não percebemos!
Ora, as escaramuças que se assistiram um pouco pelos bairros da Cidade de Maputo e Matola foram feitas por pessoas com fome de violência. “Insurgentes urbanos” que se encontram aquartelados no sovaco dos nossos bairros e cidades. Criminosos livres e à procura do feijão cheio de água e sal de uma esquadra ou cadeia – porque o verdadeiro moçambicano já vive em greve consigo mesmo. Já vive em greve com quem o dirige, mas de tanto sofrer com a greve interna, acabou por assumir a greve do medo. Como alguns diriam: “A greve deste assunto de custo da vida é seu e não meu”.
Outros dizem: “Enquanto o meu estômago não roncar de fome, não vejo porquê me meter em marchas e manifestações” – Estes indivíduos, na verdade, estão em greve consigo mesmos e são seres perigosos que, se vivessem no período da colonização, diriam de boca cheia que prefeririam continuar acasalados com o colono, porque os efeitos disso não sentem, desde que continuem com vida e a degustar o que pode!
Nós vivemos num País de grevistas não assumidos. De grevistas silenciosos na educação, na migração, na saúde, na polícia, no partido Frelimo, Renamo, MDM e outros; na agricultura, no Banco de Moçambique, na Electricidade de Moçambique e em quase todas instituições. Ora vejamos, na educação, quando um dirigente superior fecha os olhos e admite que milhares de livros sejam impressos ainda que contendo graves erros, o que isto significa? – É um grevista!
Quando quadros seniores da migração, numa Província, deixam passar terroristas ou traficantes de drogas em troca de subornos, o que isto significa? – É um grevista! Quando uma enfermeira deixa que uma mulher igual em estado de gestão perca a vida na sala de parto, simplesmente porque chegou à maternidade com uma boa capulana e blusa cara! O que isto significa? – É uma grevista contra o sistema governativo vigente.
Portanto, os exemplos são tantos… Até os homens da contra-inteligência são grevistas, porque se escondem por detrás de um texto para tentar branquear uma ideia, mas cuja interpretação social não vai cair nela!
As pessoas são obrigadas a serem eternos grevistas, mesmo que silenciosos, quando o Estado não alimenta as suas necessidades e nem cria condições para multiplicar suas rendas. Enquanto os políticos se escondem por detrás de vidros fumados e o povo a morrer de frio e sovacos nauseabundos no my love, as consequências de criação de sociedade conflituosa e com ideias extremistas como as pessoas que estão atrás do caos continuarão a surgir.
Por conseguinte, é importante que a política seja feita para desenvolver a vida dos cidadãos. Que o bem-estar social e económico se faça sentir no bolso e no prato de cada cidadão. Enfim, se o bem-estar desta pátria estiver condenado a um só grupo e entregue a um grupo de oligarcas sanguinários, não teremos uma Sri Lanka, mas sim, uma neo-babilonização – Mas em Moçambique, as pessoas já vivem em greve diária e os áudios de convocação do vandalismo só devem ter servido para tirar polícias escondidos nos gabinetes para a rua e mostrar que, afinal, temos homens suficientes para conter a onda de raptos e dos crimes hediondos que, nos últimos tempos, assolam a nossa pátria!
Afinal, é possível combater o crime organizado nas grandes cidades de Moçambique? O que falta, se um áudio colocou vários homens da Polícia da República de Moçambique (PRM) e da secreta em tudo que é rua!? Afinal, o pânico não é só da população, mas também das autoridades? Numa outra perspectiva positiva, percebe-se que o Estado aprendeu com sinais desvalorizados nos anos 2012 a 2017, em Cabo Delgado!