Reportagem: Município de Chimoio perdeu 15% dos contentores de depósito de lixo nos últimos cinco anos devido ao uso indevido pelos munícipes

Tudo porque os munícipes quando cortam as árvores ou organizam as vedações das suas residências atiram desorganizadamente para os contentores ou locais indicados pelo Conselho Municipal, sem procurarem aferir que podem aproveitar como combustível lenhoso ou mesmo para a fertilização de hortas caseiras.

Uma investigação jornalística, realizada pela “Integrity” em alguns bairros da Cidade de Chimoio, constatamos  que mais da metade dos resíduos sólidos depositados em contentores ou locais indicados pela edilidade na Cidade de Chimoio é composto por folhas, paus, entre outros derivados de árvores, levando a crer que os munícipes quando fazem uma limpeza ou querem diminuir a altura das árvores e manter a beleza dos seus quintais, desfazem-se de todo o lixo que poderia ser importante para as suas vidas.

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                                                               Contentor de lixo danificado

Aliás, já que por vezes as quantidades dos resíduos têm sido extremamente volumosas, a opção é jogar nas ravinas provocadas pelas chuvas ou nas vias de acesso, até que a ideia é vista como boa, mas complica a normal circulação de pessoas e bens pelos bairros.

Um outro dilema constatado pela nossa reportagem é que para além de os munícipes depositarem os ramos e folhas nos contentores de lixo, também ateiam fogo no local acelerando assim a decomposição daqueles depósitos que custam caro aos cofres da edilidade, entretanto, só no presente mandato, o Conselho Municipal de Chimoio perdeu 15% dos contentores adquiridos a um valor acima de 200 mil meticais cada no exterior e outros em números não especificados que ficaram fora de circulação por acções dos “amigos do alheio” que vêm no metal investido como matéria-prima para o fabrico de fogões e outros derivados.

De acordo com o agrónomo, Samuel Mário Tembo, o lixo urbano pode ser usado para vários fins considerados na agricultura. Segundo Tembo, o lixo orgânico contém matéria que pode ser usada na fertilização do solo, por isso é uma das maneiras de diminuir o resíduo sólido composto por folhas, ramos e outros componentes vegetais para a reciclagem agrícola.

                                                                               Samuel Mário Tembo, Agrónomo

” A reciclagem agrícola consiste em extracção da matéria-prima, gerando um produto benéfico ao agricultor e ao meio ambiente, e por sua vez uma das alternativas importantes para a reciclagem do lixo é fazer a compostagem onde os resíduos agrícolas passam por uma transformação biológica e tornando se fertilizantes orgânicos”, explicou Tembo.

Para tal, Tembo exortou aos munícipes que quando cortarem as árvores devem reciclar e usarem como fertilizantes para hortas e para a fertilização da relva caseira, porque para além de trazer beleza ao quintal, protege os solos da erosão, aliás no seu entender muitos quintais após as chuvas ficam corroídos porque não têm relva que podia servir para proteger.

À “Integrity” interagiu Gilda Xavier que disse na ocasião que tem uma horta caseira sobre uma superfície de argamassa. Ela afirmou que junta o solo e o lixo que por muito tempo estava numa cova, onde enterrou folhas de ramos de uma mangueira e alguns vegetais. Gilda Xavier explicou que está surpreendida por que a couve está a florescer num local onde ela estava longe de imaginar que a tal maravilha iria acontecer, mas para isso, teve instruções de um extensionista que é seu vizinho.

Portanto, “algumas folhas e ramos não devem ser deitados e muito menos queimados na rua porque podem criar problemas de saúde aos transeuntes”, defende o ervanário Paulo Raposo, que enumerou, por exemplo a acácia, o “muhedge, uma planta que é usada para vedar quintais na Cidade de Chimoio”, a Aloé Vera, o Mino e a Kapassule, porque são extremamente perigosas quando jogadas e queimadas na rua perante a circulação de pessoas nas proximidades do fogo ou do fumo.

                                                                Paulo Raposo, Ervanário

 “Há algumas doenças que nos afectam sem sabermos onde e como encontramos, porque às vezes inalamos fumo de plantas por aí, onde andamos, mas a culpa é de todos nós. Uma vez que, quando cortamos nossas plantas, deitamos nas ruas e por sua vez colocamos fogo”, afiançou o ervanário Raposo.

Portanto, para o Presidente do Conselho Municipal de Chimoio, João Ferreira, a edilidade está até ao momento desprovida de um Centro de Tratamento de resíduos sólidos, pelo que quando os funcionários dos Serviços de Saneamento vão a faina e recolhem o lixo, levam para o depósito Municipal a céu aberto localizado no bairro Agostinho Neto, que na perspectiva de João Ferreira, cabe aos munícipes fazerem a conservação e aproveitamento do lixo relacionado com folhas, paus e outros vegetais.

João Ferreira lembrou que durante a pandemia da Covid-19, a edilidade implementou o programa, “Uma família-Uma horta”, cujo objectivo era manter as pessoas em casa e que as pequenas plantações de horticulturas deveriam ser fertilizadas com adubos orgânicos produzidos por decomposição de folhas, e outros vegetais como cascas de frutas, entre outros.

Acrescentando, João Ferreira explicou que, até os técnicos que estiveram em frente da iniciativa tiveram a paciência de explicar os processos, mas de lá para cá, não tem acontecido simplesmente porque os munícipes libertam-se logo do lixo depois que fazem a poda das árvores, vedações e processamento de outros vegetais.

“Na minha casa fiz uma compostagem com matérias vegetais e tirei os húmus e os apliquei numa relva separada uma da outra. Não coloquei nada, mas por mais que eu regue, a que não fertilizei com húmus, o verde é muito patente em relação a outra, por isso que os munícipes, ao em vez de jogarem as folhas de galhos e cascas de frutas no lixo ou na estrada, deveriam fazer o processo de compostagem para aproveitarem fertilizantes para as suas plantas como flores e outras porque só assim poderão ajudar ao Conselho Municipal a gerir melhor recolha de lixo desnecessário”, encorajou o edil João Ferreira.

                                                               João Ferreira, Presidente do Conselho Municipal de Chimoio

Para o edil, a autarquia gasta muito dinheiro com a recolha de lixo de género, enquanto o valor poderia servir para outros assuntos em prol de desenvolvimento municipal. Se os munícipes soubessem das vantagens do uso das folhas e paus para a fertilização do solo, talvez poderiam saber dos benefícios daqueles resíduos sólidos.

Tanto o Presidente do Conselho Municipal, João Ferreira, assim como, para o agrónomo Samuel Tembo e o ervanário Paulo Raposo, apelam para que os munícipes abdique de desperdiçar o lixo derivado de folhas, ramos e outros vegetais, porque para além de diminuir as despesas Municipais, podem contribuir para a renda familiar e preservarem o meio ambiente, assim como podem evitar a contracção de várias doenças algumas delas incuráveis. (Pedro Tawanda)