Segundo consta no relatório do último censo da população e habitação em 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), o distrito tem 55 084 habitantes e uma área de 4 657 km², daqui resultando uma densidade populacional de 11,8 h/km². Entretanto, Machanga é detentora de recursos florestas e faunísticos valiosíssimos, conforme constatamos durante o trabalho de reportagem.
Entre os recursos valiosíssimos são os animais existentes nas áreas de conservação reservada a coutada e o Game Reserve em construção, mas a par desta realidade esta exploração desenfreada da madeira no interior destas áreas, uma vez que são detentoras de espécies florestas valiosas como o pau preto e mondzo. Foi neste contexto que António Jamo, nome fictício de um especialista contratado pelos proprietários da Game Reserve que pretende organizar uma das melhores áreas de conservação baseada em Machanga [não citamos o nome do visado a pedido das fontes], descobriu sobre os contornos da exploração ilegal da madeira e seus reais facilitadores ou mesmo líderes do esquema.
De acordo com fontes da “Integrity”, o esquema é controlado por altos quadros do sistema de fiscalização ambiental nas províncias de Sofala e Manica, ou seja, que actuam como árbitros e jogadores em simultâneo, facto este que durante os trabalhos de organização da Game Reserve, o especialista que é largamente experiente com passagens em vários parques e reservas nacionais, com grande destaque para o Parque Nacional do Limpopo (PNL) não resistiu no cargo e das ameaças que vinha sofrendo ao longo do período em que esteve em Machanga.
Sobre a situação, mesmo com vários meios para ouvir as contrapartes, ou seja, as autoridades do sector florestal, judiciais e do Game Reserve, “Integrity” não teve sucesso, entretanto, uma fonte sénior não autorizada à nível central da Agência de Controlo de Qualidade Ambiental (AQUA) em Manica e que aceitou abordar sobre diferentes temáticas do sector em off the record disse à nossa reportagem que os fiscais são escrupulosamente proibidos por lei a ter uma licença para exploração de madeira, no entanto, os fiscais envolvem se muitas vezes nos esquemas de furtividade aliciados pelos exploradores ilegais, mas é uma situação que a AQUA tenta controlar, apesar da fraca capacidade de fiscalização aliada a exiguidade de recursos humanos e materiais faz com que muitas entrem para a exploração ilegal de recursos faunísticos e florestas.
Portanto, o especialista que rescindiu o contrato descobriu toda a célula que durante anos vem devastando as áreas de florestais de Machanga e encoberto todos os furtivos ou empresas que devastam há anos aquela região e em áreas de conservação como aconteceu há anos atrás na coutada cinco, gerida pela Búfalo Camps que mesmo sabendo que a legislação florestal estabelece regras especificas sobre a exploração de recursos florestais, o facto é que espécies como pau preto e mondzo continuam a ser abatidas.
Num trabalho de reportagem realizado pela “Integrity” em Sofala, deparamo-nos com camiões transportando madeira até em estaleiros localizados em Dondo e cidade da Beira que estranhamente estão apinhados de toros de madeira e outras perdendo qualidade que posteriormente são exportadas para a República da China, onde só nos últimos anos, cálculos feitos pela “Integrity” através dos dados existentes na base estatística do Banco Mundial, indicam que 2017-2021, cerca de 700 milhões de USD em madeira exportada para a China a partir de Moçambique, não foram declarados.
Os dados acima citados são reforçados e confirmados pela recente investigação realizada pelo consórcio Zitamar News e o portal dinamarquês Danwatch, em que demonstraram que nos últimos anos a empresa Maersk transportou madeira ilegal de Moçambique para China por várias vezes, concretamente entre os anos 2019 – 2021, tendo uma das vezes transportado do Porto da Beira para o Porto de Ningbo, na China, cerca de 255 toneladas de madeira ilegal e em toro, com principal destaque para Nkula, pau-preto, Mondzo, Chanato, Mbila e outras. O pico segundo a fonte foi em janeiro de 2020 quando dois navios da Maersk chegaram ao Porto na China com mais de quatro mil toneladas de madeira ilegal vinda de Moçambique. Contudo, as autoridades moçambicanas, através do Ministério da Terra e Ambiente (MTA) estimam apenas que o País esteja a perder 200 milhões de USD anuais com a exploração ilegal de madeira.
De referir que vários estudiosos, dentre eles, o pesquisador brasileiro Rodolfo Alves Pena vem alertando sobre os efeitos do desmatamento ou a destruição de florestas, que dentre tantas consequências que possam advir, entre elas estão “as mudanças climáticas, uma vez que muitas florestas contribuem fornecendo humidade para o ambiente, de forma que a retirada dessas implica a alteração do equilíbrio climático de muitas regiões”, uma situação que se verifica em grande na província de Sofala e não só, mas grande destaque para as cidades da Beira, Dondo, Búzi e Machanga, onde nos últimos as tempestades tropicais e ciclónicas destruíram vidas e infraestruturas das comunidades, instalando um largo mar de insegurança alimentar e desequilíbrios de desenvolvimento local após a passagem do ciclone Idai e outros eventos tropicais. (Omardine Omar)