“CRIANÇAS ASSUMEM FUNÇÕES DE TÉCNICOS DA ANE NA EN1” 

Viagens que deveriam durar meia hora, levam duas a quatro horas. Aquelas que eram feitas em um dia, hoje os automobilistas e passageiros andam sem previsão de chegada. O facto é que não existe um buraco melhor que o outro, a opção é onde pode ser permitido atravessar e continuar o percurso lentamente e exposto a riscos.

Para minimizar o cenário ou mesmo reduzir o tamanho dos buracos, estão lá pelo menos, entre o troço de Muxúnguè à Caia ao longo da Estrada Nacional (EN1), na suposta via da unidade nacional, crianças e adolescentes, que na falta de soluções imediatas acabam assumindo o papel de “técnicos da ANE” e funcionários das empresas que gerem as portagens, uma vez que logo que o automobilista atravessa pelo percurso onde alegadamente realizaram alguma actividade, acabam cobrando os automobilistas valores que variam de 5, 10 e até 100 meticais, dependendo da caridade do condutor.

Entre os “técnicos da ANE”, Integrity interagiu com João Samuel, 14 anos de idade, órfão de pai e aluno da 4ª classe, na Escola Primária Tsungu, no distrito de Nhamatanda, na província de Sofala.

Samuel contou que realizam aquelas actividades para poderem levar algum dinheiro para casa. “Fizemos este trabalho para poder ajudar a família, uma vez que ninguém trabalha lá em casa. Eu por exemplo, vou à escola pela manhã e o resto do dia passo aqui a trabalhar com meus amigos.”

Entre os rapazes, estava Vasco Bento, de 16 anos de idade e conhecido no grupo como o “Boss”. Vasco Bento, frequenta a 3ª classe  é uma pessoa portadora de uma deficiência visual, ou seja, perdeu na tenra idade, o olho esquerdo, sobre as circunstâncias não chegou a revelar. Mas apenas disse que sonhava em ser polícia, mas devido às dificuldades que a sua família enfrenta, então não viu outra actividade no momento que não seja tapar os buracos ao longo da EN1 e consecutivamente ter algum dinheiro para comer.

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“Todos os homens do meu bairro praticam esta actividade, porque às vezes acertamos, mas os outros dias acabamos não conseguindo nada. Mas o pouco que nos dão dá para levar para casa e fazer com ele alguma coisa”, disse Vasco Bento.

Importa referenciar que a Estrada Nacional (EN1) há anos que se encontra em mau-estado e as promessas da sua reabilitação ou reconstrução são diárias e de certas vezes contraditórias, ou seja, é normal um dirigente vir e afirmar que já temos o dinheiro para construir da região X para Y, e no dia seguinte vir um outro afirmar que estávamos a mobilizar ainda os valores do parceiro A ou B. Entretanto, numa entrevista concedida ao programa Washington Fora D’ Horas, da VOA, o Ministro das Obras Públicas, Carlos Mesquita, disse que o último ciclone, causou danos em cerca de 20 mil quilómetros de estradas, quatro mil delas em estado crítico.

Carlos Mesquita reconheceu lacunas na fiscalização e que é preciso melhorar o controlo da qualidade de obras em Moçambique. O Ministro avançou que os quatro mil quilómetros de estradas em estado crítico precisam de ser recuperadas urgentemente para facilitar a interligação entre o sul, centro e norte.

Acrescentando, Mesquita revelou que a EN1 ficou por cerca de 15 anos sem reabilitação e manutenção, mas que já haviam garantido o financiamento junto do Banco Mundial (BM) e que dentro de um mês será lançado o concurso e que só apenas no final do ano é que começaram a construir 1100 quilómetros da EN1, que levará dois anos e as mesmas estarão entregue a seis empreiteiros. (Omardine Omar)